A ANP lançou esta semana os dados de venda de combustíveis pelas distribuidoras no mês de abril. Eles mostram o forte impacto do isolamento social das vendas em abril, mas de forma tímida em março, primeiro mês de isolamento social por conta da circulação do novo coronavírus, contrariamente aos relatos dos gestores de grandes empresas do setor.
A expectativa era de queda nas vendas de diesel em torno de 30% e de gasolina e etanol em torno de 60% já na 2ª quinzena do mês de março, conforme havia relatado em post anterior. Porém, os números indicam que não houve queda nas vendas de diesel em março em relação ao mesmo mês de 2019, mas sim aumento de 3%. Se considerarmos que não há sazonalidade nas vendas entre quinzenas, em média, o aumento das vendas de diesel na 2ª quinzena de março seria de 6% em relação à 2019 e queda de 7% e de 5% em relação a fevereiro e à média histórica, respectivamente.
A safra de grãos superou expectativas e foi o principal responsável por esse aumento no consumo de diesel no período, ao invés da esperada redução como resposta ao isolamento social.
Já no mês de abril, quando o isolamento foi mais intensivo, a nível federal e durante todo o mês, é possível observar o impacto, ainda que abaixo do esperado. Houve queda de 15% nas vendas das distribuidoras em relação ao mês de abril de 2019. Quando comparada com a média histórica dos últimos 5 anos e com o mês de março, a redução é menor, em torno de 13%.
Figura 1: Vendas de óleo diesel pelas distribuidoras (MM m³). Análise: Dados ANP, Análise ILOS.
O volume do ciclo otto vendido em março, apresentado como gasolina equivalente, sofreu queda de 14% em relação a igual período em 2019, de 19% em relação a fevereiro e 18% em relação à média de março dos últimos 5 anos. Para a 2ª quinzena de março, assume-se que a queda seria de 28% para o ciclo otto em relação ao ano anterior, metade da estimativa declarada em entrevistas.
A queda do mercado dos combustíveis utilizados no abastecimento de automóveis em abril foi de 30%, seguindo a tendência. Enquanto a média de abril dos últimos 5 anos está na casa dos 4,5 MM m³, o consumo foi de 3,1 MM m³!
Figura 2: Vendas de gasolina equivalente pelas distribuidoras (MM m³). Fonte: Dados ANP, Análise ILOS.
Figura 3: Evolução das vendas pelas distribuidoras em 2020. Fonte: Dados ANP, Análise ILOS
* 0,68 – O cálculo da Gasolina Equivalente considera a eficiência energética do Etanol na composição do ciclo otto. Para o cálculo do consumo total de gasolina soma-se ao volume de venda de gasolina C o volume de etanol multiplicado pelo fator de eficiência de 0,68: Gasolina Equivalente (m³) = Gasolina C (m³) + Etanol Hidratado (m³)
Espera-se que os próximos meses tenham comportamento similar ao mês de abril ou até mais acentuado. O início próximo do afrouxamento da quarentena tende a uma leve recuperação no consumo, principalmente de gasolina e etanol, mas, por outro lado, também haverá a redução gradativa do poder de compra da população por conta do desemprego fruto do isolamento. Essa redução do poder de compra impactará não apenas no ciclo otto, mas também no diesel, com a redução da produção e transporte de bens de consumo, mantendo a situação desafiadora na qual se encontra o setor.