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Descarbonização na Logística

Não sei o quanto todos estão realmente conscientes, mas a humanidade precisa deter o aquecimento global, causado principalmente pela queima de combustíveis fósseis e pelo desmatamento. Não se trata mais de agir voluntariamente por boa índole, mas, sim, por necessidade urgente. As pessoas já estão sendo afetadas, e os efeitos do aquecimento poderão ser cada vez piores e irreversíveis se os países e empresas não se empenharem em alcançar as metas de descarbonização.

A logística tem muitíssima relação com tudo isso. Movimentar produtos é um dos grandes motivos da poluição no planeta. As mudanças necessárias para reverter esse quadro são muitas. As ações vão desde novos combustíveis, novas fontes de energia renováveis, novos equipamentos, novos tipos de veículos, até novas cadeias de suprimentos mais próximas das pessoas. Melhorar a produtividade das operações nem se fala, com menos veículos rodando vazios, modais mais adequados, redução de desperdícios, redução de materiais, uso de retornáveis e recicláveis. 

Se a sua empresa ainda não começou a jornada de descarbonização, vale começar imediatamente. E para aquelas que já começaram, o caminho é longo, e precisará ser traçado em conjunto com o avanço de outros elos da cadeia de suprimentos (aqueles que desenvolverão novas fontes de energia, de combustíveis e novos veículos e equipamentos), além do auxílio de empresas especializadas.

Mas muita coisa depende somente da sua empresa. 

Segue um passo a passo mínimo para a implementação de uma jornada de descarbonização, com foco em logística:

GOVERNANÇA:

  • Ter uma área responsável por descarbonização, que responda à alta diretoria da empresa
  • Medir a pegada de carbono atual da empresa (se possível nos 3 escopos¹ e detalhada por atividade logística, com relatórios disponíveis ao público)
  • Ter metas de descarbonização com prazo definido (preferencialmente disponíveis ao público), definidas junto à alta diretoria e presidência da empresa
  • Ter orçamento estabelecido para alcançar esse objetivo (pois muitos dos projetos não terão retorno financeiro)
  • Ter projetos com cronograma definido, responsáveis e métricas, necessários para alcançar a meta de descarbonização estabelecida
  • Acompanhar regularmente a pegada de carbono e o alcance das metas, redefinindo ações e ajustando as ações de redução.

AÇÕES:

As ações de descarbonização em logística que sua empresa pode aplicar estão resumidas em duas frentes. 

I) REDUZIR EMISSÕES: essa frente é a mais importante e envolve a redução efetiva do quanto a empresa emite de gases nocivos ao meio ambiente. Algumas das ações desta frente dependerão do desenvolvimento tecnológico de outros elos da cadeia, mas muito já se pode fazer. Na logística, estamos falando de ações que envolvem, por exemplo:

(a) veículos e equipamentos: renovação de frota com veículos e motores menos poluentes, uso de veículos elétricos (e futuramente veículos a hidrogênio), equipamentos de armazenagem menos poluentes. No last mile, uso de bicicletas ou veículos elétricos. 

(b) Energia: redução do uso de energia em armazéns aproveitando luz ambiente, telhado verde, painéis solares. 

(c) Materiais de movimentação: redução, reuso e reciclagem de materiais de transporte e movimentação como caixas, paletes, e destinação correta dos resíduos.

(d) Modais de Transporte: priorização de modais menos poluentes (exemplo: uso de cabotagem para movimentações de longas distâncias próximas à costa) 

(e) Rede logística: a otimização da localização de fábricas e centros de distribuição para atendimento do mercado tem grande potencial de minimizar emissões e reduzir custos, pois pode reduzir o consumo de combustíveis. Neste ponto, entretanto, vale a atenção para as distorções tributárias do país, que acabam levando a um maior trânsito de cargas em virtude do posicionamento de instalações em locais não otimizados logisticamente, mas que oferecem benefícios fiscais. A iminente reforma tributária pode alterar esse cenário.

(f) Cadeias de suprimentos locais: utilização de fornecedores locais ou mais próximos da produção e do consumo, diminuindo as distâncias a serem percorridas pelos insumos e, consequentemente, diminuindo emissões pela redução do consumo de combustíveis. 

(g) Produtividade: a melhoria da produtividade sempre foi um dos objetivos principais dos gestores de logística. Ações de produtividade têm o potencial incrível de reduzir custos juntamente com a redução de emissões. Exemplos de ações de ganho de produtividade com redução de emissões são aquelas que reduzem o consumo de diesel para uma mesma quantidade de carga movimentada. Dentre elas pode-se citar:  treinamento de motoristas para menor consumo de diesel. Roteirização adequada de veículos de entrega para redução da quilometragem rodada. Planejamento da utilização de veículos para melhor aproveitamento de carga no baú. Consolidação de carga para evitar rodar com veículos não completos. Compartilhamento de veículos de carga entre empresas, aproveitamento de frete e retorno, evitando veículos rodando vazios. Tais ações estão no dia a dia dos gestores de logística, e a boa notícia é que as tecnologias estão cada vez mais disponíveis em favor do aumento de produtividade, desde softwares como o TMS até equipamentos de telemetria para analisar a direção dos motoristas e indicar necessidade de treinamentos e manutenções preventivas.

 

II) COMPENSAR EMISSÕES / COMPRA DE CRÉDITOS DE CARBONO: essa frente envolve a realização de ações que compensam as emissões que foram geradas pela empresa. São práticas que causam impacto inverso, sequestrando carbono do meio ambiente e reduzindo a pegada da empresa, como o plantio de árvores. 

Mas nem sempre as empresas conseguem realizar sozinhas esses projetos de compensação diretamente, e acabam buscando comprar créditos de carbono no mercado. Esses créditos são certificados que comprovam que uma certa quantidade de carbono deixou de ser emitida por outra empresa ou país. Ou seja, a sua empresa compensa suas emissões pagando pela redução de carbono que uma outra empresa conseguiu. 

Em muitos casos, mesmo realizando projetos de redução direta de emissões, a compra de créditos de carbono acaba sendo a única saída para que uma empresa alcance o NetZero (ou carbono neutro). 

 

Por fim, vale destacar que várias das ações de descarbonização em logística e supply chain terão custos associados. E esse é o ponto mais delicado de toda a implementação da descarbonização. Se o objetivo das empresas é gerar lucro, por que investir em ações de descarbonização que aumentam custos? Nesse caso, o papel dos governos e da sociedade se tornam imprescindíveis. A descarbonização deve ter força de lei, para que todas as empresas precisem buscá-la, não sendo mais uma ação voluntária. E a sociedade deve fazer sua parte, somente aceitando comprar de empresas que atuem na descarbonização do planeta. 

Alguns países do mundo já estão extremamente avançados em suas regras de descarbonização, e o Brasil vem avançando com suas legislações específicas. 

Motivos não faltam para sua empresa se estruturar para a descarbonização. Vamos juntos descarbonizar o planeta. 

¹ Os escopos de emissão de gases do efeito estufa são padronizações de mensuração definidos no GHG Protocol. O escopo 1 são as emissões diretas da própria empresa, o escopo 2 são as emissões indiretas provenientes do uso de energia. O escopo 3 são as emissões indiretas de fornecedores de matérias primas, transportadores contratados, descarte de resíduos entre outras.

Referências:

https://ilos.com.br

Sócia-Executiva do ILOS, possui mestrado e graduação em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com mais de 10 anos de experiência na área de Logística e Supply Chain atuando em diversos projetos, gerenciamento e participação de pesquisas associadas ao tema. Possui mais de 20 artigos em jornais, revistas, periódicos e anais de congressos, sendo co-autora de diversos títulos da Coleção COPPEAD pela editora Atlas e da Coleção Panorama Logístico ILOS e CEL/COPPEAD.

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