Em meio a uma onda de inadimplência entre as transportadoras de cargas de Mato Grosso, a ATC, associação que representa o segmento no Estado, decidiu propor o que chama de “balizador de custos de fretes”. Na prática, criou uma tabela com as principais rotas rodoviárias de escoamento da safra e as tarifas mínimas a serem praticadas em 2015. “Estabelecemos uma referência para cobrir o custo do caminhão rodar e evitar uma quebradeira geral no setor”, disse Miguel Mendes, diretor-executivo da ATC.
Conforme Mendes, um conjunto de fatores explica o mau momento do segmento em Mato Grosso. As previsões de altas produtividades de grãos estimularam a renovação e o aumento das frotas, e essa maior oferta fez as tarifas de frete caírem.
Pesou também o excesso de feriados devido à Copa do Mundo – bitrens e rodotrens não podem trafegar em rodovias federais e estaduais nessas datas – e a aprovação da lei que limita a jornada dos caminhoneiros, que diminuiu em 40% a produtividade do caminhão, de acordo com Mendes. Para ele, mais de 60% dos que contrataram crédito pelo Finame (financiamento do BNDES) estão com parcelas em atraso em Mato Grosso. “Elaboramos o balizador para evitar que o transportador aceite o que o mercado impõe e acabe pagando para trabalhar”.
Em uma das mais movimentadas rotas, de Sorriso ao porto de Santos (SP), o valor estipulado é de R$ 270 por tonelada. “Temos notícias de alguns [transportadores] tentando impor tarifas abaixo do balizador. Mas estamos tentando conscientizá-los da importância de cobrar um frete suficiente para mantê-los”, disse.
No mercado, contudo, correm notícias da pressão para a adoção do balizador, o que aumentou a apreensão da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Para o diretor-geral Sérgio Mendes, esse tipo de tabela tende a prejudicar o produtor mato-grossense, já desfavorecido pelas grandes distâncias até os portos. “Pode ser até que tabelem por baixo mas, por princípio, é um ato que somos contra, porque fere a livre competição”, disse.
Para o representante da Anec, é muito difícil que duas grandes transportadoras trabalhem com o mesmo custo. “Muitas delas têm fretes de retorno mais garantidos que outras, e por isso teriam como oferecer um frete mais baixo”.
A ATC diz que já vem sendo acusada de formação de cartel, mas defende que a tabela por si só não caracteriza a prática. “Como é que se faz cartel cobrando valor de custo?”, questionou Miguel Mendes.
Fonte: Valor Econômico
Por Mariana Caetano