Ao longo da crise gerada pela pandemia da Covid-19, vimos inúmeros relatos dos impactos relacionados à logística e as consequências no abastecimento de insumos e produtos ao longo das cadeias de suprimentos. Novamente o tema de rupturas no abastecimento ganhou o noticiário, porém não relacionado à crise sanitária, e sim aos diversos bloqueios que caminhoneiros pró-governo Bolsonaro tem provocado nas estradas do país. Às 8h da manhã do dia 9 de setembro, eram confirmados bloqueios em pelo menos 15 estados da federação: SC, RS, PR, ES, MT, GO, BA, MG, TO, RJ, RO, MA, RR, PE e PA.
Figura 1 – 15 estados que registraram bloqueios dois dias após as manifestações do 7 de setembro. Fonte: G1; ILOS.
Tais manifestações tem caráter político, visto que não há coordenação de qualquer entidade setorial do transporte rodoviário de cargas sobre os protestos, que não estão limitados aos principais pleitos da categoria atualmente, relacionados ao preço dos combustíveis e piso mínimo de fretes. A paralização de caminhoneiros pode trazer consequências como desabastecimento e agravamento da crise econômica e da inflação, que tem sufocado o poder de compra dos brasileiros, principalmente os mais pobres. Vale lembrar que em 2018, como o sócio-diretor do ILOS Maurício Lima descreve em seu post à época, a greve dos caminhoneiros trouxe impactos severos à diferentes indústrias e setores empresariais, e este “fantasma” de uma nova greve assombra a economia desde então.
Estas manifestações trazem luz às fragilidades que muitos setores apresentam em suas cadeias de suprimentos e ao risco constante que a dependência do modal rodoviário gera para empresas que operam no Brasil. Diversos setores relatam os impactos que as paralisações causaram no transporte de cargas. A Eletros (associação de fabricantes de eletroeletrônicos e eletrodomésticos) afirmou que já há indústrias correndo riscos de paralisar linhas de produção por falta de insumos que seriam entregues por carretas paradas em bloqueios. A Abit (indústria têxtil) afirmou que transportadores se recusaram a coletar carga de SP para transporte com destino à SC. Mesmo caso para a Abiplast (indústria de plástico), que enfrentou dificuldades para contratar transportadoras e com cargas bloqueadas nas estradas. A ABPA, entidade do setor de frangos e suínos, um dos mais impactados pela crise da Covid-19, afirmou que apesar de não haver bloqueios na descida em direção aos portos, há dificuldades no retorno vazio, o que pode comprometer a cadeia como um todo.
A crise da pandemia gerou enormes problemas logísticos, como falta de insumos por conta de paralisações em fábricas, e a crise da falta de contêineres, que vem encarecendo os fretes marítimos internacionais. Para a retomada da economia, é fundamental que não haja fatores políticos adicionais que agravem os problemas já enfrentados pelo setor. O governo tem trabalhado na agenda que pretende destravar investimentos em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, porém é importante que questões ideológicas não atrapalhem o desenvolvimento desse importante objetivo, principalmente no contexto desafiador que se apresenta.
Uma das verticais do 27º Fórum Internacional de Supply Chain tratará de transportes e armazenagem, dois pilares na gestão logística. O evento acontecerá entre os dias 4 e 6 de outubro e contará com palestras de executivos das maiores empresas e renomados especialistas do Brasil e do mundo. Será imperdível!
Referências:
– Folha de S. Paulo – Indústria de eletrônicos relata risco de parar produção por bloqueio de caminhoneiros
– G1 – Pelo segundo dia consecutivo caminhoneiros bolsonaristas bloqueiam estradas em estados
– Folha de S. Paulo – Caminhoneiros protestam em rodovias de três estados
– O Globo – Bolsonaro e Tarcísio gravam mensagens para caminhoneiros e fazem apelo por desbloqueio de estradas