Nesses últimos anos, o segmento de saúde tem sido foco das discussões de prestadores de serviço e de profissionais de logística e supply chain. Essa atenção especial tem suas motivações bem fundamentadas. O mercado de saúde é um dos únicos que tem previsão de crescimento mesmo durante os períodos de crise, principalmente, pois seu crescimento está mais relacionado ao envelhecimento da população que ao crescimento da renda.
Figura 1 – Mercado de saúde é um dos poucos em crescimento mesmo em período de crise
Fonte: Medicamentos Schaeffer
Claro que o crescimento pode ser mais ou menos acentuado a depender da renda e dos investimentos governamentais no segmento, no entanto, o aumento do volume deve ocorrer, conforme percebeu-se ano passado e tem-se percebido esse ano.
Nesse contexto, algumas questões quanto à logística de medicamentos e a outros itens de saúde devem ser avaliadas e aprimoradas de forma a evitar rupturas na cadeia e perdas de produtos que podem ocasionar, não somente perdas financeiras, mas perdas de vida.
Os pontos mais críticos no que diz respeito à logística de medicamentos no Brasil são “logística fria”, o alto valor dos produtos, alto fracionamento de entregas e a logística hospitalar.
A disponibilidade de veículos refrigerados e com controle de temperatura é uma preocupação crescente para esse segmento que vislumbra um futuro com mais medicamentos biológicos e que exigem frio para se manter adequados para o uso.
No Brasil, uma parcela pequena da frota das grandes transportadoras é própria, sendo cerca de 70% subcontratada. Sendo assim, dificuldades no investimento para adequação da frota existe e tem sido restritiva para o aumento da disponibilidade.
Corroborando com a dificuldade de investimento pelos motoristas autônomos/agregados, está o alto valor da carga. Além de fazer o investimento no veículo, o motorista precisa ter seu perfil aprovado pelas gerenciadoras de risco para movimentação de medicamentos, dado que são produtos muito visados por quadrilhas.
Não somente a restrição de perfil de motorista, mas o valor total das cargas a serem movimentadas também são limitadas por questões de risco. Essa limitação faz com que a ocupação dos veículos seja muito prejudicada, chegando a ocupações da ordem de 30%.
No entanto, o alto fracionamento da carga não é apenas culpa dos altos índices de roubo de carga brasileiros, as farmácias, hospitais e distribuidores buscam comprar os menores lotes necessários de cada medicamento devido à restrições de capital.
Somada a restrição de capital ao crescente número de SKUs e a alta especificidade de uso de cada medicamento, há dificuldade para consolidação de carga e torna mais complexa a previsão de demanda e gestão de estoques.
Essa situação tem gerado uma maior necessidade de profissionais especializados em logística e supply chain, reforçada pelo fato de no segmento de saúde grande parte dessas atividades serem realizadas por médicos e farmacêuticos.
Os grandes hospitais do país têm investido na frente de logística e supply chain, buscando profissionais especializados e incluindo como parte essencial da operação do hospital a disponibilidade de medicamentos, não somente no estoque central do hospital, mas também para cada farmácia e leito.
Apesar desse direcionamento nos grandes hospitais do país, ainda há um caminho longo a percorrer para que isso também ocorra em hospitais menores e públicos, reduzindo os custos, as perdas e, principalmente, as faltas de medicamentos.