Um dos serviços oferecidos hoje em dia pelas empresas de e-commerce é a possibilidade de devolver os itens adquiridos ao remetente, muitas vezes sem custo e com coletas na casa do cliente. Trata-se de uma ótima conveniência, que une a comodidade de receber os itens em casa, com a possibilidade de experimentar, ver e sentir os produtos que eram apenas um monte de pixels no momento do pagamento, mas essa facilidade vem com alguns desafios para a sociedade.
Com o aumento constante de compras sendo feitas pela internet, e com o acirramento da competição por serviço, não é surpresa ver que o volume de devoluções vem também crescendo de forma acelerada nos últimos anos. Nos EUA, o volume de compras retornadas foi de cerca de 18% no fim de 2022 (frente a 11% em 2020), de acordo com números da National Retail Federation, com um valor total estimado de US$ 816 bi ao ano.
Naturalmente, a operação de devolução tem um custo, afinal coleta, transporte, estocagem e movimentações adicionais são necessárias para cumprir a tarefa, tendo ainda o impacto correspondente em termos de emissões de gases-estufa. Ao contrário da operação “completa” de e-commerce, porém, o saldo total de valor gerado na transação é absolutamente zero, uma vez que o consumidor não ganha nada, nem a empresa comerciante, em relação ao estado inicial antes da compra. Em muitos casos ainda, o produto não retorna em condições adequadas para revenda, e precisa ser descartado, agravando problemas de natureza ambiental, como destinação adequada de lixo. É sempre importante lembrar também que não existe “almoço grátis”, e o custo dessa operação acaba tendo que ser incorporado de alguma forma ao preço do frete ou do produto, impactando também clientes que nunca usam esse tipo de serviço.
No Brasil, temos essa prática forçada por lei, o chamado direito de arrependimento, que permite que o consumidor devolva qualquer produto recebido em até 7 dias, recebendo inclusive o montante pago pelo frete. A medida tem seus méritos, visto que o mundo online ainda possui suas armadilhas, mas gera incentivos ruins também com respeito ao desperdício e aumento de custos.
É um problema complexo, como se pode ver, que coloca na balança o direito do consumidor e conveniências esperadas com as consequências negativas para a logística e meio ambiente. Talvez a melhor forma de evitar os retornos indesejados seja entregar o máximo possível de informação, evitando quebra de expectativa. Para o caso de vestuários, por exemplo, ao invés de apenas dizer se o tamanho é “P”, “M” ou “G” e dar medidas precisas, mas que ninguém na prática sabe aplicar, pode-se apresentar um provador virtual, ou alguma uma referência visual de como a peça se molda no corpo de acordo com as características informadas pelo usuário. Da mesma forma, ajudam também opções de visualização 360° de produtos, exibição detalhada de embalagens, acessórios e demonstrações de uso mais completas (incluindo limitações).
A visibilidade do estoque de lojas físicas também pode ser útil, uma vez que pode direcionar o consumidor a um desses estabelecimentos, onde ali ele poderá avaliar o produto de forma mais meticulosa. Entregar os itens no prazo prometido evita que o cliente busque uma outra solução mais rápida e devolva um produto redundante que chegou atrasado. Achar destinos adequados para produtos que não possam ser revendidos como novos é igualmente importante. Finalmente, cabe ao consumidor entender que a forma como compra e devolve produtos gera alguns impactos, sendo importante pesquisar mais sobre os produtos para evitar a “muleta” da devolução fácil e grátis (que pode sair cara).
Referências:
- https://www.cnbc.com/2022/04/10/how-amazon-plans-to-fix-its-massive-returns-problem.html
- https://nrf.com/blog/shifting-mindset-around-retail-returns#:~:text=Returns%20account%20for%20%24816%20billion,and%20sponsored%20by%20Appriss%20Retail
- https://nrf.com/research/2022-consumer-returns-retail-industry
- https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/justica/audio/2022-03/cidadao-tem-direito-de-devolver-produto-comprado-online-em-ate-7-dias