A logística e a sétima arte – Trilogia / Parte 2
No post anterior, abordei algumas das questões referentes à operação logística de distribuição de filmes aos cinemas. A logística de uma forma geral se tornou mais complexa com a expansão de mercados e novos concorrentes, com novas tecnologias. Cada vez mais busca-se atender públicos maiores, mais espalhados geograficamente e também muito mais exigentes.
Na indústria cinematográfica não é diferente. Os filmes recentes devem ser distribuídos a muito mais cinemas que as produções de antigamente. O filme Jurassic Park, por exemplo, estreou em 2.404 salas nos EUA em 1993. Um número bem menor que o do recente Jurassic World, lançado em junho do ano passado, e que teve sua exibição inicial em 4.274 telas americanas. A exibição em mais lugares logicamente incrementa os custos e as dificuldades de distribuição dos filmes.
Figura 1 – Jurassic World (2015) – Mais dinossauros. Mais salas
Fonte: Universal
Mas não é só nos mercados consolidados que ocorreram expansões. A maior delas aconteceu na China. Em 2007, o país possuía um total de 3.527 telas em todo o território, mas em 2014 o número já saltou para 23.592 (Figura 2). Esse aumento e o crescimento econômico acelerado do país nos últimos anos tornaram o mercado chinês o segundo maior do mundo em 2012, ultrapassando o Japão. E isso considerando que apenas 34 filmes estrangeiros podem ser exibidos anualmente no país. O aumento do número de telas também aconteceu em outros países, como Brasil e México, ainda que com números menores.
Figura 2 – Número de salas de cinema na China
Fonte: Statista
Outra mudança que acarreta em desafios logísticos é a menor janela de estreias internacionais. Os grandes lançamentos atualmente são lançados mundialmente na grande maioria dos mercados no mesmo dia ou na mesma semana. Uma comparação que podemos fazer é entre os primeiros filmes de cada trilogia da saga Star Wars e suas respectivas datas de estreia nos EUA e no Brasil. O primeiro filme, de 1977, foi lançado em maio nos cinemas americanos, e só chegou às telas brasileiras em novembro, um semestre depois. Já o Episódio I: A Ameaça Fantasma, de 1999, chegou ao Brasil em 24 de junho, pouco mais de um mês após a estreia nos EUA no dia 19 de maio. No fim do ano passado, porém, pudemos assistir a O Despertar da Força um dia antes dos americanos (17/12 x 18/12). O modelo de lançamentos simultâneos requer esforços coordenados dos diversos distribuidores de um longa-metragem ao redor do mundo.
Figura 3 – Darth Vader só foi apresentado aos brasileiros seis meses depois de aparecer nos EUA. Já o carismático BB-8 chegou um dia antes nos cinemas do Brasil
Fonte: Lucasfilm
Falando sobre mercado, é bom notarmos que há diferentes maneiras de distribuir um filme, e a operação logística de distribuição precisa estar alinhada com o marketing do lançamento. Um divisor de águas nesse sentido foi o clássico Tubarão, de 1975. Ao contrário da maioria dos filmes da época, que eram lançados progressivamente em um maior número de cinemas, o suspense de Steven Spielberg arriscou um marketing agressivo e uma distribuição nacional, estreando em mais de 500 telas, um número alto à época. Deu certo. Tubarão se tornou o título de maior bilheteria até então e consolidou o lançamento e distribuição em larga escala das grandes produções (aliados a uma publicidade elevada), os chamados blockbusters.
Figura 4 – Tubarão (1975) inovou ao ser o primeiro filme distribuído em larga escala e quebrou recordes de bilheteria
Fonte: Universal
Nem todo filme segue esse padrão de lançamento. Alguns filmes de qualidade artística considerável, mas com menos apelo a grandes audiências tendem a ter um lançamento menor esperando receber boas avaliações de críticos, divulgação boca a boca e indicações a prêmios para depois partirem a distribuições nacionais e internacionais. Um exemplo recente é O Regresso, com Leonardo de Caprio, que concorre a 12 estatuetas do Oscar. Lançado em poucos cinemas americanos no dia 25 de dezembro de 2015, começou a ser exibido no resto do país a partir do dia 8 de janeiro.
Esses são alguns exemplos de como as mudanças do mercado e o posicionamento de marketing afetam a distribuição das produções cinematográficas. Na última parte da nossa trilogia sobre a logística hollywoodiana, falaremos como os filmes são disponibilizados para você assistir em casa.
Referências
<http://www.boxofficemojo.com/movies/?id=jurassicpark4.htm>
<http://www.boxofficemojo.com/movies/?id=jurassicpark.htm>
<http://www.theguardian.com/film/2013/mar/22/china-largest-film-market-outside-us>
<http://natoonline.org/data/us-movie-screens/>
<http://www.statista.com/statistics/255377/number-of-cinema-screens-in-mexico/>
<http://www.statista.com/statistics/255377/number-of-cinema-screens-in-brazil/>
<http://www.statista.com/statistics/255377/number-of-cinema-screens-in-china/>