No início de outubro, o mundo presenciou mais uma catástrofe que assolou o país mais pobre das Américas: o furacão Matthew atingiu o Haiti com ventos de até 230 km/h, deixando um rastro de destruição no país que ainda se recuperava do terremoto devastador de 2010. Somada às mais de 800 fatalidades, o furacão deixou o Haiti em situação de total calamidade. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA), 1,4 milhões de haitianos necessitavam de assistência alimentar e pelo menos 800 mil pessoas estavam em carência imediata desse tipo de ajuda ao final de outubro. Além disso, centenas de casos de cólera afetavam os haitianos devido a problemas de acesso a água potável e medicamentos.
Figura 1 – Segundo estimativas, a região de Grand Anse, no Haiti, teve 90% de suas casas destruídas
Fonte: EU Delegation to the Republic of Haiti
Em resposta à catástrofe haitiana, o mundo se mobilizou para ajudar o Haiti. Médicos sem Fronteiras, ONU e Unicef são alguns exemplos de grandes organizações humanitárias que atuam nos locais mais afetados, seja prestando serviços médicos, levando suprimentos ou ajudando crianças com necessidades mais imediatas. Mas entre as doações realizadas pelas pessoas em várias partes do mundo e a atuação e ajuda in loco, está situada uma complexa operação logística.
De maneira conceitual, a logística em situações de crise é uma área de pesquisa na logística aplicável em situações de desastres e catástrofes, na qual os objetivos estratégicos do supply chain, classicamente voltados para redução de custos operacionais e investimentos em conjunto com a melhoria do nível de serviço, mudam de foco. No contexto emergencial, se busca a maximização do nível de serviço com tempos de entrega menores possíveis. Uma linha de pesquisa em logística em situações de crise, iniciada em 2009 no Instituto Coppead de Administração, junta conceitos da logística humanitária àqueles das logísticas militar e empresarial. Alguns de seus conceitos e frameworks estão bem explicados nos artigos desenvolvidos pelo professor da University of Tennessee Alexandre Rodrigues, separados em parte 1 e parte 2, dos quais a leitura fica sugerida para aprofundamento sobre o tema.
A Cruz Vermelha, um dos maiores movimentos humanitários do mundo, possui um serviço logístico próprio, a GLS (sigla para Global Logistics Service), cuja principal missão é prover serviço logístico humanitário à rede de atendimento da própria Cruz Vermelha e a outras entidades sem fins lucrativos e governos. Para atuar de maneira eficaz e eficiente, a GLS possui equipes de especialistas logísticos espalhados em 5 unidades ao redor do mundo, trazendo uma aproximação das unidades aos locais de atendimento que reduziu o tempo de entrega de um kit básico familiar (contendo itens como cobertor e utensílios de alimentação) em 75%. A GLS também possui poder consolidado de compra, o que a permite realizar compras de grandes lotes a preços competitivos. Sua estrutura global também oferece flexibilidade para atender as mais diversas situações de emergência. Ainda, a GLS possui parcerias estratégicas que geram cooperação mútua para o atendimento da demanda, como, por exemplo, o transporte aéreo feito em parceria com a Airbus Corporate Foundation. De maneira resumida, a GLS demonstra como principais competências:
Operação sem fins lucrativos + poder de compra consolidado = custos reduzidos na aquisição de suprimentos, e
Rede de atendimento + capacidade de mobilização de recursos = menores tempos de atendimento
Custos reduzidos em conjunto com baixos tempos de atendimento permitem que a GLS provenha níveis de serviço altos, em consonância às necessidades de tais situações. Caso queira ajudar as vítimas haitianas do furacão Matthew, os sites oficiais das principais organizações humanitárias do mundo são bons caminhos para realizar doações. Contamos com a logística que as atende para que as doações realizadas se transformem em ações humanitárias eficazes e que a atuação destas organizações auxilie na reconstrução do país.
Médicos sem Fronteiras: http://www.msf.org.br/
Unicef: http://www.unicef.org.br/
Cruz Vermelha: http://www.ifrc.org/en/
Referências:
<http://www.ifrc.org/en/what-we-do/logistics/>
<https://ilos.com.br/web/logistica-em-situacoes-de-crise-parte-1/>
<https://nacoesunidas.org/haiti-onu-pede-resposta-robusta-para-enfrentar-cenario-pos-furacao-matthew/>