O desperdício alimentar é um problema global de grandes proporções. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), aproximadamente um terço de todos os alimentos produzidos no mundo é desperdiçado anualmente. A crescente conscientização sobre o desperdício alimentar e os impactos negativos que ele causa ao meio ambiente e à sociedade tem levado ao surgimento de diversas iniciativas inovadoras.
Como exemplo dessas iniciativas, temos a Food to Save, a Refood, a B4 Waste, a Too Good to Go, a SuperOpa e tantas outras espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. Cada uma tem uma particularidade em seu modelo de negócios, mas um objetivo similar: reduzir o desperdício alimentar e o custo do excesso de empresas do segmento.
Para ilustrar melhor como isso é feito, selecionei o caso da Food to Save, foodtech brasileira criada em 2021. A Food to Save conecta redes de alimentos com excedentes de produção e produtos com validade perto de expirar a consumidores interessados em adquirir produtos a preços mais acessíveis. Tudo funciona através de um app, onde a loja disponibiliza para venda um tipo surpresa de sacola de produtos (doce, salgada ou mista), o valor total original dos produtos que estão ali dentro e o valor da sacola após o desconto.
Figura 1 – Exemplos de ofertas do Food to Save. Fonte: Food to Save
Com descontos acima de 50%, os clientes podem optar por retirar o produto na loja ou pagar por um frete de entrega, que também é informado no app. Grandes redes já se juntaram a esse marketplace, como Hortifruti, Natural da Terra, Starbucks, Rei do Mate, Vezpa e diversos outros restaurantes, pizzarias, cafés e confeitarias. Até o momento o serviço está disponível em 19 cidades de São Paulo, além da cidade do Rio de Janeiro e de Brasília.
Além da solução ambiental e social, iniciativas como essa são ótimas alternativas também para a área de logística. Acertar a quantidade exata de SKUs que serão necessários em cada loja é uma tarefa extremamente desafiadora e o erro é algo natural. Como, em geral, o custo da falta é maior do que o custo do excesso, é comum a formação de estoques de segurança, visando absorver demandas superiores à média. Em se tratando de produtos altamente perecíveis, como é o caso de grande parte dos itens disponibilizados por estas foodtechs, isso se torna uma questão, pois nesses casos o custo do excesso costuma ser maior do que o de um produto não perecível, uma vez que a sobra do item por um único dia pode significar a perda de todo o custo de produção.
Ao vender produtos que estão próximos da data de vencimento, a iniciativa evita que esses itens sejam descartados, economizando tempo e recursos. Além disso, a venda desses produtos a preços mais baixos ajuda a recuperar parte do valor investido, minimizando as perdas econômicas para as empresas envolvidas.
O fator surpresa do produto, caracterizado pelo fato do cliente não saber que produtos exatamente estão ali dentro, também auxilia na logística, pois permite que a empresa consiga vender produtos de menos apelo, aproveitando o fato de que eles vão junto com outros mais populares. Por estar pagando um valor muito abaixo do preço de mercado, muitos consumidores inclusive gostam da sensação de não saber o que tem dentro da sacola, como se estivessem recebendo um presente.
Figura 2 – Exemplos de sacolas surpresas da Food to Save. Fonte: Food to Save
Estas são alternativas interessantes para empresas que sofrem com o descarte de produtos, pois contribuem para a eficiência da cadeia de suprimentos, tornam alimentos acessíveis a um público mais amplo, promovem uma mudança de mentalidade em relação ao desperdício e, em última análise, ajudam a preservar os recursos naturais e reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
- https://www.foodtosave.com.br/
- https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2022/02/07/refood-aplicativo-desperdicio-de-alimentos.htm
- https://www.b4waste.com.br/
- https://www.toogoodtogo.com/pt
- https://forbes.com.br/forbes-money/2023/02/food-to-save-salva-mil-toneladas-de-comida-e-projeta-faturar-r-16-mi/
- https://www1.folha.uol.com.br/mpme/2021/09/aplicativos-vendem-produtos-perto-de-vencer-com-descontos-de-ate-80.shtml
- https://www.fao.org/americas/noticias/ver/pt/c/239394/