A pandemia do novo coronavírus tem tido diversos impactos na sociedade e nas cadeias de suprimentos globais, como temos abordado aqui nos ILOS Insights. A restrição à circulação de pessoas vem causando grandes mudanças de hábitos e uma série de problemas para diversas indústrias e campos econômicos. Tais conjecturas exigem um esforço de replanejamento por parte dos gestores de supply chain, sobretudo sobre a estratégia de lançamentos e como distribuí-los.
Para ilustrar o ponto, um dos primeiros setores a tomar medidas extremas em função da escalada viral foi o cinematográfico. Muitas grandes produções, como o novo filme do espião 007, “Sem Tempo para Morrer”, e o remake de “Mulan”, foram adiadas a poucas semanas do lançamento nos cinemas, que estariam vazios. O filme “Velozes e Furiosos 9” teve sua data de estreia alterada de maio deste ano para abril de 2021. Dado que todo o investimento já foi feito na produção, é equivalente a segurar um produto quase um ano inteiro no estoque, com o custo associado a essa imobilização. Muitos dos filmes adiados nem têm data nova para estreia. A complexidade é grande porque toda a calendarização dos lançamentos é feita de forma a maximizar a receita dos estúdios, mas só um punhado de títulos podem ocupar o mesmo espaço temporal, e por isso é feita com anos de antecedência. As produções em andamento também foram impactadas, por conta das restrições de deslocamentos, e essas paradas também geram atrasos e prejuízos financeiros.
Figura 1: Vários lançamentos cinematográficos foram adiados por conta da pandemia. Fontes: Paramount, Eon, Disney
No entanto, além do adiamento das obras, outras medidas mais ativas vêm sendo tomadas pelos produtores para reduzir os impactos. Algumas produções tiveram roteiros alterados para evitar filmagens em localizações de maior risco, como a Itália. Dessa forma, diminui-se a demora e os riscos para o término da produção (e para a saúde dos envolvidos, claro), minimizando o efeito do capital empatado. Outra ação adotada foi mudar a maneira de distribuir o conteúdo. A Universal, por exemplo, lançou todo o catálogo que estava em cartaz nos cinemas por canais digitais, disponibilizando-os para assistir em casa, para minimizar os prejuízos com a falta de espectadores. A Disney antecipou em três meses o lançamento de Frozen II em seu serviço de streaming, o Disney +, também para aproveitar o aumento da demanda por conteúdo para o lar.
Figura 2: Filmes da Universal foram disponibilizados On-Demand por conta do novo Coronavírus. Fonte: Comcast
Esses casos e ações do mundo audiovisual servem de reflexão para empresas de outros setores. Pense no seu plano de lançamento de novos produtos. Ele ainda está apropriado dada a situação atual? E os produtos futuros, como serão impactados pelos adiamentos de agora? Assim como as salas de cinema, as linhas de produção e armazéns também possuem limites, afinal, e os planos operacionais devem ser adaptados de acordo. Com a mudança de rotina, pode-se pensar também em alteração de portfólio e estratégias de distribuição em canais que melhor atendam aos hábitos mais caseiros dos consumidores, além de planos para reduzir o estoque que tenha ficado parado em função da queda de demanda. Tal como está fazendo a indústria cinematográfica, é preciso apagar os incêndios e pensar na saúde das pessoas, mas também é necessário enxergar onde se encontram as oportunidades para evitar os piores caminhos.
Referências:
A vulnerable film industry feels the impact from coronavirus
Disney Plus now streaming Frozen 2 in a coronavirus coping surprise
Universal’s movies currently in theaters will be made available on demand this week