HomePublicaçõesInsightsComplexidades na cadeia logística climatizada – Parte 2: Armazenagem

Complexidades na cadeia logística climatizada – Parte 2: Armazenagem


No meu último post, iniciei a discussão sobre as complexidades da cadeia climatizada (cold chain), enfatizando aquelas vividas pela operação de transporte. A ideia agora é detalhar os desafios enfrentados pela armazenagem ao lidar com itens climatizados, além de abordar outras influências destes produtos ao longo da cadeia logística.

Alguns desafios se assemelham aos que eu trouxe no texto sobre transporte, como você verá ao longo da lista abaixo.

  1. Sobre o custo: o custo da armazenagem para itens climatizados tende a ser maior do que a operação seca. Refrigeradores, condensadoras, evaporadoras, portas com vedação para temperatura, além de paredes com isolamento térmico e até mesmo docas refrigeradas, aumentam o CapEx necessário para a instalação. Além disso, a refrigeração gera impacto em custos operacionais, principalmente no consumo de energia.
  2. Sobre a contratação: o investimento necessário para a armazenagem de itens climatizados é um dos incentivadores para a terceirização desta operação. No entanto, por motivos semelhantes ao transporte, como alto custo, perda de produtividade, especificidade de faixas de temperatura e alta necessidade de controle, os prestadores de serviço logísticos de armazenagem climatizada existem em menor proporção quando comparados à oferta de galpões a temperatura ambiente, tornando a contratação terceirizada de maior complexidade. Variáveis de alta relevância são impactadas por este fato, como: custo por posição pallet, nível de serviço disponível, distância das fábricas aos armazéns e disponibilidade, principalmente em momentos de pico.
  3. Sobre o controle de temperatura: por conta das várias faixas de temperatura que os itens de uma operação climatizada podem ter, é comum um armazém ser fracionado em diversas câmaras, diminuindo a capacidade dos galpões e a produtividade na movimentação. O controle de temperatura exige sensores e controles rígidos, tornando complexa a operação. Esta situação pode ser ainda mais crítica quando for necessário o controle de umidade das câmaras.
  4. Sobre as diferentes instalações ao longo da cadeia: de forma análoga ao que acontece no transporte, a cadeia climatizada necessita de refrigeração em todos os elos de sua cadeia. Isto inclui armazém da fábrica, centros de distribuição, pontos de transbordo de carga, entre outros. Geralmente, para locais com operações de porte muito pequeno, em que a carga é somente quebrada em veículos menores, as opções climatizadas são ainda mais escassas. Por conta disso, muitas vezes as malhas climatizadas são mais enxutas, com menor quantidade de instalações e possivelmente menos otimizadas.
  5. Sobre os pontos de venda: se a operacionalização da armazenagem climatizada em instalações da própria rede logística, como CDs e TPs, já é complexa, que dirá nos pontos de venda de terceiros para comercialização B2C, que inclui supermercados, lojas de conveniência, bancas, restaurantes, floriculturas, entre outros. O tempo em que o produto da cadeia climatizada fica no ponto de venda não é exceção para a necessidade de refrigeração. O ideal, para manter a qualidade dos itens, é que sejam mantidos na temperatura indicada até o momento do consumo. No entanto, sabemos que o controle nos PDVs é de grande dificuldade, principalmente por conta da pulverização. Chocolates, assim como flores, são vendidos numa enorme quantidade de estabelecimentos, muitos deles com portas abertas ao cliente e sem refrigeração adequada, e realizar a fiscalização da temperatura de condicionamento em todos é praticamente uma missão impossível. O que temos visto é que nem mesmo grandes redes varejistas conseguem se adaptar às necessidades de todos os itens, pois há uma grande diversidade de faixas de temperatura desejadas e alto custo relacionado à refrigeração. Para reduzir os impactos disto na qualidade dos produtos, os fabricantes precisam adaptar seus processos produtivos, embalagens utilizadas, dimensionamento de estoque no PDV, tempo de prateleira estimado, entre outros aspectos da cadeia.

Acho válido comentar também outras complexidades existentes na cold chain não abordadas de forma direta durante a análise de transporte e armazenagem.

  1. Sobre a pressão na cadeia: Falei sobre a pressão na operação para diminuir custos ao longo do transporte, mas há também a pressão de lead time: como comentei, itens climatizados, em geral, possuem menor tempo de validade e, assim, quanto maior o prazo para vencer quando chegam às prateleiras, mais provável é a venda. Desta forma, todas as etapas da cadeia precisam ser muito bem orquestradas, desde o momento da decisão pela fabricação, passando pela alocação do pedido, até a entrega. Quanto menor a quantidade e a duração das etapas e suas ‘esperas’, melhor será o lead time do produto.
  2. Sobre o planejamento: muito foi comentado sobre a dificuldade de terceirizar as operações de transporte e armazenagem. Para diminuir esta complexidade, é necessário um importante aliado: o planejamento. Feito com acuracidade e antecipação suficientes para uma resposta do time de procurement, menor será o impacto na operação, tanto em custo quanto em disponibilidade.
  3. Sobre tecnologia: já conversamos um pouco sobre monitoramento e tracking da temperatura ao longo da cadeia logística, mas não falei diretamente sobre tecnologia. A cold chain, principalmente de alimentos, possui diversas normas a serem seguidas em todas as etapas do transporte e armazenagem. É necessário utilizar sistemas (softwares e/ou hardwares) que respondam a esta complexidade, com funcionalidades como:
    • Capacidade de armazenamento de dados de longo prazo, para vistorias futuras e controle de qualidade governamentais;
    • Relatório em real time para o time de qualidade sobre as condições de armazenamento no transporte e em terra;
    • Alertas para caso de desvios da faixa de temperatura ideal;
    • Alta capacidade de responder a alterações no ambiente externo, mantendo temperatura e umidade interna (no veículo ou galpão);
    • Para o caso da frota, capacidade de controle remoto da temperatura à distância, ou seja, permitir a alteração diretamente da base da empresa;
    • Inteligência para manter a temperatura ideal com o menor gasto possível de energia, colaborando no quesito sustentabilidade.

Expondo esta longa lista de pontos sobre armazenagem e aspectos gerais, finalizo a análise da cadeia climatizada. Não faltam desafios para embarcadores e operadores logísticos dos segmentos envolvidos. Diversas áreas foram mencionadas além da logística em si, como: planejamento, seleção de fornecedores, qualidade e customer service. É necessário grande alinhamento entre todas as partes para que os produtos cheguem no cliente final com a qualidade esperada, buscando sempre os menores custos e a maior satisfação do consumidor!

 

Referências:

– Sumit Varma – LinkedIn Pulse (13/07/2022): Cold Chain Logistics Complexities and Possible solutions

– Food Logistics (13/07/2018): Mastering the Complexities of the Cold Chain

– Logistics Brew: What is Cold Storage & How Does Cold Storage Work?

– Jetcar: Transport à chaud, livraison rapide

– Cargo Connect (17/02/2020): Managing complexity within the Food Supply Chain

– Totvs (14/10/2021): Cold Chain: entenda o que representa para o setor de logística

– Food Logistics (14/08/2015): Temperature Control: The Ongoing Quest In The Food Supply Chain

Faz parte da Equipe ILOS desde 2018, trabalhando em projetos com foco em Logística e Supply Chain. Suas experiências englobam grandes players da indústria de cimento, de polímeros e de bens de consumo, além de empresas do varejo. Tipos de projetos realizados no ILOS: Gestão de transporte, estratégia de contratação de transportes, assessoria sobre impactos do tabelamento de pisos mínimos de frete, dimensionamento de frota, mapeamento e otimização de processos, redução dos índices de devolução.

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