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A logística brasileira para as Olimpíadas de Tóquio 2020

Há alguns anos, escrevi o meu primeiro post neste blog, contando um pouco sobre as operações logísticas necessárias para a realização das Olimpíadas, em especial a edição Rio 2016. Dezenove medalhas olímpicas depois, o Brasil se prepara em 2020 para mais uma edição dos Jogos Olímpicos, agora em Tóquio, no Japão. Apesar da abertura da competição ser apenas no dia 24 de julho, a logística para o evento já começou há muito tempo.

Uma matéria divulgada pelo jornal O Globo no último dia 24 trouxe informações interessantes sobre a operação logística envolvendo a equipe brasileira. Faltando cerca de 6 meses para o início dos jogos, o Comitê Olímpico Brasileira (COB) está preparando o último contêiner com equipamentos a serem enviados para o Japão. Uma viagem entre o Porto de Santos e o Porto de Tóquio, considerando os serviços internacionais de contêineres disponíveis atualmente no país, dura um pouco mais de 40 dias, sendo necessária uma troca de navio antes do destino final, geralmente feita na China. Por conta desse longo tempo de trânsito envolvido no transporte marítimo dos contêineres, é fundamental um planejamento da operação com grande antecedência.

Dos 14 contêineres previstos para serem enviados para o Japão, 10 já foram despachados, 1 saíra em março do Brasil e os outros 3 sairão da China. Dentre o material que já foi enviado estão barcos a vela que serão usados pelos atletas brasileiros, materiais esportivos, uniformes, pisos e equipamentos esportivos. No último contêiner que será enviado do Brasil, serão transportados itens como material médico, mobília e equipamentos de musculação. A justificativa para o transporte destes materiais para tão longe é o preço elevado dos itens no Japão. Segundo Sebastian Pereira, ex-judoca e atual gerente de alto rendimento do COB, é mais barato levar os aparelhos de musculação do Brasil do que comprá-los no outro lado do mundo.

Figura 1 – Exemplos de materiais da delegação olímpica brasileira exportados para o Japão

Fonte: Jornal O Globo

 

Um fator adicional de complexidade para a operação é a quantidade de destinos diferentes envolvidos nesta logística. Pensando em facilitar a aclimatação dos atletas brasileiros, o COB negociou a instalação de 9 sedes diferentes no Japão para acomodação da delegação do país antes do início da competição: Hamamatsu (que também receberá a delegação brasileira para os Jogos Paralímpicos semanas depois e que conta com uma grande colônia de brasileiros), Saitama, Sagamihara, Ota, Chiba, Enoshima, Miyagase, Koto e Chuo. Nas três últimas edições dos Jogos, o Brasil contou com apenas uma instalação para acomodação e preparação dos atletas antes do início da competição. No entanto, o alto custo e indisponibilidade de datas das universidades japonesas e a utilização dos melhores centros do país pela delegação da casa tornaram necessárias a utilização de espaços educacionais e esportivos espalhados pelo país, indicados pelo Comitê Olímpico Japonês. Em acordo com as prefeituras desses locais, a deleção brasileira realizará ações sociais de promoção do esporte, dos valores olímpicos e de integração com a comunidade e as escolas locais em troca da utilização desses espaços.

Figura 2 – Sedes da delegação brasileira nas Olimpíadas de 2020

Fonte: ILOS com apoio do Google Maps

 

Além dessas bases, o COB também dará suporte a duas outras subvilas: Izu, distante 140 km, que vai receber o ciclismo de pista e o mountain bike, e Sapporo, distante 1.100 km por carro e 900 km por avião, que vai receber a maratona e a marcha atlética (a mudança, para tão longe de Tóquio, ocorreu por causa do calor na sede dos Jogos).

Por se tratar de um país com clima diferente e fuso horário de 12 horas a mais, é importante que os atletas cheguem com antecedência ao Japão e, por isso, o COB planeja uma chegada de todos os membros do Time Brasil a essas sedes a 12 dias das respectivas competições.

Além disso, outra questão que reforça a importância destas sedes é a limitação de hospedagem da Vila dos Atletas. Cada delegação pode hospedar uma quantidade limitada de pessoas na Vila, fazendo-se necessário um bom planejamento para considerar a data de início e encerramento de cada modalidade em que o país levou atletas e definir quais atletas habitarão a vila em cada período. Das cerca de três semanas de duração da competição, a segunda semana é mais complicada nesse aspecto, pois grande parte das modalidades já começaram e muitas ainda não terminaram.

Outro elemento peculiar diz respeito ao planejamento da demanda. Enquanto as empresas tentam prever quantos consumidores ela alcançará e quantas unidades serão vendidas, a previsão que o COB precisa fazer é, principalmente, da quantidade de atletas que conseguirão chegar aos jogos olímpicos e de quais modalidades esportivas. Este número impacta tanto a quantidade de uniformes necessários quanto os tipos de equipamentos e itens necessários, por exemplo. Até o momento, 152 atletas de 17 modalidades diferentes estão garantidos nos Jogos de 2020.

Até o dia 24 de julho, fica a torcida para que o Brasil ultrapasse a expectativa de 300 atletas classificados para as Olimpíadas de Tóquio, mesmo que isso custe mais horas de trabalho para a equipe de logística!

 

Referências

<https://oglobo.globo.com/esportes/brasil-tera-24-mil-refeicoes-com-arroz-tailandes-feijao-brasileiro-em-toquio-1-24206392>

<https://www.otempo.com.br/superfc/v%C3%B4lei/ultra-destaque-radio-super-noticia-7.5964873/brasil-tera-nove-sedes-para-aclimatacao-na-olimpiada-de-toquio-1.2285989>

Mais de 11 anos de experiência em projetos de capacitação e consultoria, com foco em Logística e Supply Chain. Em consultoria, realizou projetos como Plano Transformacional de Logística, Diagnóstico das operações logísticas, Estratégia e Calendarização da Operação de Transporte, Mensuração do Custo de Servir, Estudo de Mercado, Mapeamento de Oportunidades de Redução de Inventário, Revisão do Processo de S&OP, Plano de Capacitação e Implementação de Processos Comerciais em empresas como Nestlé, Raia Drogasil, Ipiranga, Lojas Americanas, B2W, Coca-Cola, Andina, Embraco, Martins Atacado, Loja do Mecânico, Santo Antônio Energia, Ecoporto e Silimed. Atualmente é uma das professores do Curso de Gestão de Estoques ministrado semestralmente pelo ILOS. Atuou no desenvolvimento e gerenciamento dos Cursos Online de Logística e Supply Chain, Processos de Suprimentos, Planejamento da Demanda, Gestão de Estoques e Gestão Industrial. Ainda na área de capacitação, foi responsável por aplicar os jogos empresariais do ILOS em empresas como Raia Drogasil, Fibria, NEC, Novartis e Moove.

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