Desde o anúncio do lançamento do Drex, a nova moeda digital brasileira, analiso as vantagens da utilização de uma unidade monetária eletrônica em um país. É evidente que os maiores ganhos estão atrelados a questões de segurança baseadas na tecnologia de blockchain, tal qual as já famosas criptomoedas. Assim como o PIX, o Drex é apenas mais um passo para o aumento da digitalização das transações monetárias no país, mas quais as vantagens logísticas de se deixar de utilizar o dinheiro em espécie?
A rede logística para disponibilizar dinheiro em espécie na economia de qualquer país é intrincada, com ênfase especial no transporte seguro e armazenagem adequada das cédulas e moedas. O processo de transporte do dinheiro começa nas instalações das autoridades monetárias, onde as notas são impressas e as moedas são cunhadas após a solicitação da figura de um banco central. Uma vez produzido, o dinheiro geralmente é transferido para algum local centralizador que tem a responsabilidade de redistribuir os numerários em centros regionais através de transportadoras especializadas em segurança de valores. Finalmente, o dinheiro é então distribuído para os bancos e caixas eletrônicos, podendo passar previamente pelas chamadas instituições custodiantes, que são terceirizadas responsáveis pela logística adequada do dinheiro.
No Brasil, a Casa da Moeda, localizada no Rio de Janeiro, é a responsável pela impressão de cédulas e moedas após a ordem de produção enviada pelo Banco Central do Brasil. Quando sua impressão é finalizada, o dinheiro é enviado para 9 cidades (gerências técnicas), onde é armazenado até ser destinado para instalações do Banco do Brasil, que age como custodiante em todo o território nacional, sendo o responsável também pelo recolhimento e pela verificação do estado de conservação dos numerários que são retornados. Estando em posse do Banco do Brasil, esse é responsável por seguir a política monetária definida pelo Banco Central para distribuir o dinheiro para as demais instituições financeiras, que por sua vez redistribuem os valores entre suas agências bancárias, lotéricas e caixas eletrônicos. Outro ator importante dessa rede, ainda que menor, são os guichês de fornecimento de troco, gerenciados pelo Banco do Brasil e que mantêm em custódia moedas e notas de 2 e 5 reais, servindo de ponto de troca monetária para pessoas físicas.
Para muitos, pode parecer que o dinheiro em espécie é algo em extinção após a criação do PIX, mas esse tipo de percepção faz sentido apenas nas grandes cidades, uma vez que a informalidade e a baixa bancarização ainda são fortes em todo o território nacional, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva em 2022, cerca de 44% da população brasileira afirma que o dinheiro físico é o seu principal meio de pagamento, enquanto 28% recebem parcialmente ou totalmente a sua remuneração em numerário. Além disso, o dinheiro em espécie ainda é visto pela população como uma das formas rápidas e seguras de se criar uma reserva monetária, evidenciado pelo pico de 2020 durante o boom da pandemia de Covid-19. De acordo com a diretora do Banco Central Carolina Barros, esse número é justificado não só pelo aumento dos auxílios emergenciais, mas também pelo princípio de uma corrida bancária observada em todo o mundo, forçando os bancos centrais de todos os países a emitirem mais moeda para a manutenção da credibilidade do sistema bancário.
Quando pensamos no dinheiro em espécie como um produto, é irônico imaginar que essa rede logística altamente capilarizada e com elevado grau de complexidade gerencial existe para colocar a disposição um item que, por si só, não agrega valor para a economia da União. De acordo com o Banco Central, aproximadamente 35% do total de moedas produzidas no Brasil estão esquecidas ou perdidas. Enquanto guardada como reserva de valor ou perdida nas ruas, uma cédula de real não vale nada para a economia brasileira, tendo sido responsável apenas por gerar custos.
Em um próximo post, abordarei um pouco mais sobre esses custos envolvidos na cadeia logística do numerário do nosso país. Enquanto isso, convido a todos que chegaram até aqui a refletir sobre os movimentos econômicos globais de digitalização do dinheiro, pensando também sobre os desafios para se alcançar uma economia totalmente digital.
Referências
- bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/drex
- bcb.gov.br/cedulasemoedas/caminhododinheiro
- banco24horas.com.br/blog/distribuicao-do-dinheiro
- banco24horas.com.br/blog/dinheiro-em-especie-qual-e-a-sua-forca-no-brasil#:~:text=Segundo%20pesquisa%20do%20Instituto%20Locomotiva,as%20classes%20D%20e%20E.
- exame.com/economia/dinheiro-em-especie-ainda-e-a-base-das-transacoes-no-brasil-diz-diretora-de-administracao-do-bc/
- bcb.gov.br/cedulasemoedas/obtencaotroco