Recentemente, ao analisarmos os dados de comércio internacional brasileiro, tivemos uma grata surpresa. Os portos do Arco Norte já são o segundo maior movimentador de soja em grãos para exportação no Brasil. De mera promessa há alguns anos, eles já exportaram 9,6 milhões de toneladas de soja em grãos entre janeiro e setembro de 2016, o que representa 19% de toda a soja exportada nesse período pelo Brasil. Santos segue na liderança, com 29%.
Figura 1 – Barcaça carregando soja por hidrovia
Fonte: Amaggi
A análise levou em consideração as movimentações dos portos de Barcarena (PA), Santarém (PA), Manaus (AM), Santana (AP) e São Luís (MA), os principais a compor o Arco Norte. Pela primeira vez, eles ficaram à frente do porto de Rio Grande (RS) que, desde 2013, era o segundo maior exportador de soja do País. Entre janeiro e setembro de 2016, Rio Grande transportou 8,8 milhões de toneladas, ou 18% da soja nacional exportada.
Como já era esperado, em números absolutos, o crescimento dos portos do Arco Norte não vem provocando redução no volume de soja transportada por Santos, Paranaguá e Rio Grande, tradicionais exportadores do grão. Entre 2011 e 2016, os três portos também apresentaram crescimento nas exportações, principalmente Santos e Rio Grande (média de 13% e 12% ao ano, respectivamente), enquanto Paranaguá teve crescimento médio de 5% a.a.
As mudanças, porém, aconteceram na participação de mercado. Enquanto os portos do Arco Norte viram sua participação crescer de 13% para 19% no período, Paranaguá foi quem mais sentiu a queda, saindo de 21% do mercado para 15%. Nesses cinco anos, Santos registrou uma pequena alta, enquanto Rio Grande praticamente estabilizou nos 18%.
Figura 2 – Participação dos portos na exportação brasileira de soja em grãos
Fonte: ILOS
Uma boa forma de tentar entender essa mudança nos fluxos de soja para exportação é analisar a movimentação do Mato Grosso, estado que responde por mais de 30% da soja comercializada pelo Brasil, nos últimos dois anos. Desde 2014, ano em que Miritituba e Barcarena começaram a operar, existe uma tendência de redução no envio de soja da região para boa parte dos portos brasileiros, a exceção de Santos e do Arco Norte. Em um dos casos mais emblemáticos, Paranaguá, que chegou a escoar 1,5 milhões de toneladas da soja mato-grossense em 2014, recebeu “apenas” 620 mil toneladas até setembro deste ano.
Em contrapartida, Mato Grosso já enviou, até setembro de 2015, 5,7 milhões de toneladas de soja para o Arco Norte, o dobro do volume de 2014, enquanto Santos recebeu 7,1 milhões de toneladas. Caso esse ritmo se mantenha, a tendência é de que, nos próximos anos, o Arco Norte ultrapasse Santos e se torne a principal via de exportação de soja do Mato Grosso.
A dúvida, porém, é quanto à infraestrutura na região. Por mais que os investimentos venham sendo feitos em Miritituba para ampliar o escoamento pela hidrovia do Tapajós, o acesso à cidade paraense ainda depende da BR-163, cujo estado ainda é precário no Pará. A expectativa das trades é pela construção da Ferrogrão, ferrovia que ligaria Sinop (MT) a Miritituba e que foi incluída no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do Governo Temer. Entretanto, caso o cronograma não atrase, a ferrovia só deve estar operando por volta de 2023.
Embora o trem ainda vá demorar para chegar a Miritituba, as trades continuam os seus investimentos no Norte do Brasil. A Cianport iniciou em setembro de 2016, a exportação de soja através do porto de Santana (AP), que tem capacidade para movimentar 1,8 milhão de toneladas. Além disso, a empresa está construindo um segundo terminal no Amapá, com estrutura para transportar 3,5 milhões de toneladas. Já a Amaggi acaba de comprar 50% dos terminais da Bunge em Miritituba e Barcarena, enquanto a Glencore e a ADM pretendem movimentar cerca de 3 milhões de toneladas da próxima safra pelo seu novo terminal, também em Barcarena.
Referências:
<http://www.cargonews.com.br/%EF%BB%BFwilson-sons-agencia-participa-do-primeiro-embarque/>
<http://www.abag.com.br/sala_imprensa/interna/abag-escoamento-de-graos-pelo-norte>