É básica para o profissional de supply chain a noção de que a logística integrada pode agregar valores de 4 naturezas diferentes para as companhias: valor financeiro, valor de tempo, valor de lugar e, por fim, valor de informação. O foco desse texto será essa última dimensão de valor.
Quando se faz uma compra online, por exemplo, é muito comum que se deseje acompanhar cada etapa do processo de entrega até o momento do recebimento. Essa exigência de rastreabilidade por parte dos clientes aumenta a cada ano, muito impulsionada também pelo ganho de relevância do e-commerce dentro do varejo como um todo.
Entretanto, essa valorização das informações referentes ao “caminho de um produto” não é nem de perto exclusividade do e-commerce ou do varejo. Nos Emirados Árabes, foi lançado um sistema nacional de rastreamento de medicamentos, chamado “Tatmeen”, responsável por realizar o “track and trace” de mais de 1.2 milhões de pacotes durante a sua fase de teste. De acordo com o departamento de saúde do país, o sistema ajuda na garantia de qualidade dos medicamentos em circulação e aprimora o controle sobre eles, conectando digitalmente autoridades, fábricas, distribuidores, farmácias e consumidores, além de permitir visibilidade de “onde o pacote vai” (tracking) e “de onde ele veio” (tracing). O esquema abaixo busca ilustrar os conceitos de “track and trace”.
Além do setor farmacêutico, o segmento pecuário, bem proeminente no Brasil, também tem observado uma necessidade maior de rastreabilidade em suas cadeias, devido à intensificação de regulações e novos protocolos de segurança. Por exemplo, em casos graves de intoxicação alimentar causadas por uma eventual contaminação do alimento ingerido, pode ser necessário localizar todas as unidades daquele mesmo lote para evitar que sejam vendidas, caso também estejam contaminadas. As tecnologias de “tracing” vão viabilizar esse processo e facilitar a identificação da etapa na qual ocorreu essa contaminação – se foi na própria criação do gado, no processamento/embalagem do alimento, no processo de distribuição ou em etapas posteriores. Mas, afinal, quais são essas tecnologias? Elas podem ser divididas em 3 etapas/funções primordiais e algumas das alternativas mais relevantes serão abordadas a seguir.
Tecnologias de Captura e Tradução – tem a função de capturar e transformar dados físicos e reais (como localização, tempo, temperatura, status) em dados digitais. Alguns exemplos de tecnologias desse tipo são:
Código de barras e scanners: uma representação ótica do dado, normalmente contendo alguma informação sobre o objeto que carrega o código de barra. Cabe destacar que o código de barra precisa ser lido por um scanner para que a informação seja capturada. Essa tecnologia fornece uma solução eficiente a baixo custo, mas possui limitações ao passo que requer uma aproximação física (cerca de 5 metros) entre o leitor e o objeto, além de cada objeto precisar ser lido individualmente, o que demanda mais mão-de-obra. Por fim, um outro aspecto limitante é que as informações contidas em um código de barras não podem ser atualizadas, mas apenas lidas.
RFID: trata-se de um sistema que usa campos eletromagnéticos para identificar automaticamente “tags” que estejam anexadas a um determinado item. Essas “tags” contém informações eletronicamente armazenadas que podem ser passivas (não demandam energia) ou ativas (demandam energia). Diferente dos códigos de barra, as tags RFID podem ser lidas num raio de até 100 metros, simultaneamente e em lotes. Além disso, essas informações podem ser atualizadas ao longo da cadeia, o que potencializa a sua aplicabilidade em diversos modelos de negócio, a exemplo do artigo desenvolvido pela sócia Maria Fernanda Hijjar. Por outro lado, essa tecnologia tem um custo superior e pode não funcionar bem em produtos metálicos e líquidos.
Tecnologias de Transmissão e Upload – tem a função de mover a informação digital de uma fonte local para um sistema global/nuvem e isso pode se dar em tempo real (contínuo) ou por meio de checkpoints (discreto). Alguns exemplos de tecnologias desse tipo são:
EDI (Electronic Data Interchange): Como o nome sugere, trata-se de um intercâmbio de informações e documentos em formatos padronizados entre computadores. Utilizada há mais de 30 anos, essa tecnologia permite que os dados sejam transmitidos em diversos formatos (FTP, email, HTTP e etc.) e substitui o processo manual de envio e inserção de dados em sistema, mitigando assim os erros humanos. Entretanto, alguns pontos de atenção devem ser ressaltados, uma vez que a implementação pode exigir mudanças em alguns processos da companhia, além de acarretar altos custos (especialmente quando se terceiriza o processo de tradução dos dados). Uma limitação que pode relevante em alguns casos é que os envios não são em tempo real, mas sim enviados em lotes periodizados (de x em x horas, por exemplo)
API (Application Programming Interface): Um conjunto de definições, protocolos e ferramentas para construção de uma aplicação em software, que estabelece métodos definidos de comunicação entre componentes. É comparável ao EDI, mas utiliza protocolos online, ou cloud-based, e possibilita que qualquer sistema se comunique com outro, sem os mesmos desafios de implementação e gestão observados na utilização de EDIs. Cabe destacar que as APIs, geralmente, não são compatíveis com sistemas legados/antigos. Além disso, há possíveis ramificações de segurança e sigilo dos dados, uma vez que são cloud-based.
GPS (Global Positioning System): Transmissão contínua de informações sobre ativos para uma plataforma centralizada, viabilizando o monitoramento contínuo dos mesmos, além de possibilitar a implementação de planos táticos de contingência em tempo real, como mudanças de trajeto ou de roteirização.
Tecnologias de Acesso e Aplicabilidade – tem a função de prover acesso e capacidade de agir usando essas informações. Alguns exemplos de tecnologias desse tipo são:
SC Execution Systems: Baseado em regras condicionais e nas informações coletadas e transmitidas para o sistema, exibe alertas sugerindo ações. Funciona por meio de uma metodologia “detecta-alerta-responde-aprende”.
Torre de Controle: Plataforma ou ambiente centralizado que captura dados ao longo da cadeia e exibe para acompanhamento de uma equipe, preferencialmente especializada. Trata-se de um serviço oferecido por diversos operadores logísticos e implantado em diversas indústrias.
Essas são apenas algumas tecnologias que estão disponíveis no mercado acerca do tema de “tracking” e “tracing”. Entretanto, existem uma infinidade de outras tecnologias em supply chain sendo utilizadas no momento e essa pesquisa desenvolvida pelo ILOS detalha um pouco melhor o grau de maturidade das empresas brasileiras frente às tecnologias existentes.
De acordo com estudos da Research and Markets, a expectativa de crescimento médio anual do mercado de soluções de track & trace é de 15% ao ano até 2026, quando deve alcançar um patamar de 6.5 bilhões de dólares. Mas e a sua empresa, possui atualmente as ferramentas de “tracking” e “tracing” ideais para o segmento em que se encontra?
Referências: