A coluna do jornalista Ancelmo Gois desta segunda-feira, em O Globo, trouxe uma notícia preocupante: uma transportadora está com cerca de 300 caminhões parados em Manaus a espera de carga para o Sudeste. Essa notícia preocupa por diversos motivos, dois deles bastante evidentes na nota: a queda na produção nacional, reflexo direto da retração da economia, e por 300 caminhões estarem parados, o pior cenário para uma transportadora.
Esses dois aspectos são circunstanciais, resultados do momento da economia, e serão revertidos uma hora ou outra. Entretanto, existe um terceiro que, para mim, é muito mais preocupante do que os outros dois: em pleno 2015, o Brasil ainda transporta carga entre Manaus e o Sudeste por caminhão!
Atualmente, pouco menos de 10% da produção brasileira são movimentados por cabotagem, enquanto regiões como China e União Europeia, com territórios tão extensos quanto o do Brasil, transportam mais de 30% da sua carga pela navegação costeira. Para os embarcadores de carga brasileiros, essa distorção decorre, principalmente, da infraestrutura precária dos portos nacionais e do excesso de burocracia governamental, como pudemos ouvir em recente estudo realizado pelo ILOS.
Figura 1 – Comparação entre a matriz de transporte de cargas do Brasil, China e União Européia
Fonte: ILOS, Eurostat, National Bureau Statistics of China, 2014
O alento é que, nos últimos 10 anos, o crescimento anual da movimentação de contêineres por cabotagem tem sido de 13% ao ano, e mais de 40% das empresas do País já utilizam o modal. Além disso, os embarcadores demonstram interesse em ampliar sua movimentação por cabotagem, principalmente entre Manaus e o Sudeste. Entretanto, é preciso que haja mais investimentos nos portos brasileiros, além da redução da burocracia por parte dos órgãos governamentais. Se isso não acontecer, corremos o risco de continuarmos totalmente dependentes de um modal caro e poluente como o rodoviário.
Referências:
Panorama ILOS “Portos Brasileiros – Avaliação dos Usuários e Análise de Desempenho – 2015”
Jornal O Globo – 14/12/2015