As medidas de restrição de deslocamento são essenciais para a contenção do crescimento descontrolado da pandemia, o que superlotaria o sistema de saúde. No entanto, existe um grupo de setores e pessoas que precisam manter-se em movimento agora mais do que nunca. Profissionais de saúde, operações logísticas, fornecedores de materiais hospitalares, higiene, medicamentos e alimentos são alguns exemplos mais evidentes.
Gostaria, porém, de destacar um grupo de profissionais, geralmente liberais, que estão fazendo um grande papel para evitar o deslocamento daqueles cujo isolamento é recomendado. Os entregadores são fundamentais para manter a quarentena da maior parte da população. No entanto, apesar de importantes para a redução das transmissões cruzadas, eles também podem ser um meio de transporte muito eficiente do novo coronavírus entre grupos isolados, configurando uma ameaça de contaminação mesmo para aqueles que não saem de casa.
Apesar do risco, os entregadores continuam sendo os heróis anônimos da quarentena e cabe aos gestores, consumidores e aos próprios entregadores implementarem práticas que minimizem os riscos de contaminação no last mile.
Na China, os varejistas online de alimentos acalmaram o país oferecendo para a população uma forma de comprar alimentos a preços razoáveis mesmo sem poder sair de casa. Mas muitos dos consumidores isolados queriam ter a certeza de que apenas suas comidas estavam quentes e não as pessoas envolvidas no preparo e entrega dos seus pedidos. Assim, alguns restaurantes passaram a medir a temperatura dos seus cozinheiros, embaladores e entregadores a cada pedido, informando por meio de um bilhete as medidas de higiene tomadas e as temperaturas das pessoas envolvidas no processo de preparo e entrega do pedido.
No Brasil, farmácias, mercados, restaurantes e aplicativos de entrega não param de registrar crescimento nos seus serviços de delivery. E os entregadores, que estão na linha de frente desses serviços, enfrentam muitas vezes condições de trabalho que aumentam ainda mais sua exposição. Grande parte não possui outra opção de sustento e, por serem, em sua maioria, autônomos, a responsabilidade sobre sua segurança e saúde acaba caindo sobre eles mesmos tornando sua realidade ainda mais dura.
Algumas iniciativas estão sendo colocadas em prática pelas empresas para proteger os entregadores e consumidores. A Loggi, por exemplo, investiu em comunicação e orientação, distribuiu álcool gel e luvas em suas principais agências e implementou uma triagem na entrada dos seus CDs com medição de temperatura corporal e questionamento sobre a saúde dos colaboradores. Já o iFood criou dois fundos para os entregadores que somam R$2 milhões. O primeiro fundo, no valor de R$1 milhão, financia um mês de inatividade para os entregadores que pertencem ao grupo de risco e o segundo será para dar suporte àqueles que precisam permanecer em quarentena em razão do Covid-19.
Para a segurança dos consumidores as práticas mais recorrentes são o incentivo ao pagamento via aplicativo e a criação da opção de entrega “sem contato”, ambas implementadas pelo iFood, Rappi e Uber Eats.
Apesar da rápida reação dos aplicativos de entrega com a implementação de práticas para evitar a contaminação de entregadores e consumidores, estas iniciativas ainda não são suficientes para garantir a não transmissão em domicílio. No entanto, o risco de contaminação reduz muito se compararmos a existência deste serviço com a não existência dele, tornando os entregadores essenciais soldados do last mile na batalha contra a Covid-19.
Referências:
China’s food delivery workers are lifeline in coronavirus outbreak
Coronavírus muda rotina nas empresas de entrega e transporte por app